*Análise do Cientista Político e Presidente da Arko Advice, Murillo de Aragão
A candidata favorita à Presidência da Argentina, senadora Cristina Kirchner, conseguiu a foto com a qual sonhava para o “broche de ouro” de sua campanha: ao lado do presidente Lula, o líder político mais bem avaliado da América Latina (56%), segundo pesquisa da Ipsos Public Affairs, publicada no fim de semana pelo jornal La Nación, o mais crítico ao peronismo.
Na quarta-feira (03.10.07), depois de almoçar no Palácio do Planalto, Cristina encontrou-se com um grupo de empresários brasileiros e com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, com quem discutiu investimentos em energia na Argentina, uma das maiores preocupações do governo, que voltou a enfrentar apagão no último inverno.
Coutinho estima em US$ 4,5 bilhões as linhas de crédito disponíveis para quem quiser investir na Argentina. A prioridade do “PAC portenho” que Cristina pretende lançar, se eleita, é o gasoduto Norte-Sul, que cruzaria o continente levando gás da Venezuela para o Brasil e a Argentina.
A candidata está convencida de que uma associação entre os três países e a Bolívia “fechará a equação energética da América Latina”, o tema que mais empolga o presidente brasileiro.
Diferentemente do marido, que despreza a política externa e mal conhece Uruguai e Chile (onde tem parentes), a primeira-dama realizou recente périplo pela Europa e Estados Unidos, onde, à exceção de George W. Bush, foi recebida por todos os chefes de estado.
Cristina encantou-se com o universo lá fora e acredita que a química que desenvolveu com aqueles líderes será o principal instrumento da abertura da Argentina para o mundo que pretende promover ao alojar-se na Casa Rosada.
Essa será a principal característica da sua política externa, como forma de romper o isolamento a que seu marido confinou o país, restrito nos últimos anos à amizade de Hugo Chávez e aos laços ancestrais com a Espanha.
O relacionamento com o Brasil, para quem Buenos Aires sempre foi a mais estratégica das parcerias, está contaminado pelo ressentimento desde que Nestor Kirchner trocou a privilegiada pauta comercial com Brasília pelos petrodólares de Caracas.
A virtual futura presidente vislumbra aí o único e forte traço de inovação de seu programa de governo: reaproximar-se do Brasil, que mantém uma boa relação com os Estados Unidos, e aos poucos recompor seu diálogo com os americanos, deteriorado pelo chavismo de Kirchner.
Os argentinos têm um eterno complexo de inferioridade diante de Washington, resultando em relações de amor e ódio, das quais jamais tiram qualquer benefício. Tudo o que eles sonham desde 2001 é a recuperação do que chamam de “protagonismo internacional”.
A convicção de que os argentinos escolherão o continuísmo não está apenas nos números das pesquisas. É uma conclusão natural diante da constatação de que o peronismo domina a periferia de Buenos Aires, quase 30% da população eleitoral de 12 milhões que vive na capital. Esse número representa praticamente metade dos votantes do país.
Governar, no entanto, não será tão simples. Espera-se de Cristina um pacto "a la Moncloa" com empresários e trabalhadores para flexibilizar salários e preços, sem excitar a inflação que estaria em 17% anuais (10% na versão do governo), mantendo a elevada taxa de crescimento da economia prevista para 8% este ano.
(Equipe Arko América Latina - americalatina@arkoadvice.com.br)
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