29 de outubro de 2007

ESPECIAL: Entenda porque Cristina Kirchner venceu

*Por Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko América Latina
A vitória da candidata da “Frente para a Vitória”, Cristina Kirchner, veio a confirmar as projeções realizadas antes da definição do candidato governista. Fosse Néstor ou Cristina, dificilmente o Kircherismo perderia o poder na Argentina, devido ao cenário econômico favorável. Mesmo que os críticos argumentem que sua durabilidade seja de curto prazo, a política de controle de preços e elevado gasto público, turbinou o poder de compra dos cidadãos (desde pobres até ricos).

Outra conseqüência não menos importante foi a blindagem criada em torno de Cristina. Nem os escândalos de corrupção que atingiram funcionários do alto escalão da Casa Rosada conseguiram abalar sua candidatura. Só para lembrar, a então ministra da Economia, Felisa Miceli, foi obrigada a renunciar após uma bolsa com dólares ser encontrada no banheiro de seu gabinete.

Com um crescimento de 8% nos últimos cinco anos, o governo dispôs de mecanismos para cooptar adversários nas províncias. Isso foi possível através do direcionamento de recursos para localidades governadas pela UCR (União Cívica Radical). Com isso, a Casa Rosada conquistou o apoio de 20 dos 24 governadores. De lá, vieram à maioria dos votos para Cristina.

Em relação à votação dela, o analista político argentino Rosendo Fraga fez uma leitura bastante interessante. De acordo com ele, quatro de cada cinco eleitores de Cristina haviam votado no ex-presidente Carlos Menem, cuja base também foi às províncias mais pobres. Por sua vez, assim como Cristina, o ex-presidente tinha sua rejeição localizada na capital Buenos Aires. As coincidências não param por ai. Os governadores que apoiaram Menem eram das mesmas províncias dos que, nessas eleições, apoiaram Cristina. A diferença fica na questão política, Menem era de centro-direita e Cristina é de centro-esquerda.

Esse fenômeno ocorreu justamente por questões econômicas. Enquanto na capital o eleitor é menos dependente desses recursos, nas províncias a relação é inversa. A vinda de recursos do governo central significa a sobrevivência do político local e dos habitantes.

Num cenário onde os argentinos votaram pragmaticamente com o “bolso”, a oposição não teve nomes nem alternativas para confrontar o governo. Um indicativo foi às estratégias desenvolvidas pelos adversários da futura presidente. A segunda colocada na disputa, Elisa Carrió, apresentou-se como moralizadora prometendo combater a corrupção. Amealhou votou do eleitor de classe média que não tolera desvios éticos, mas deixou a desejar na hora de apresentar um projeto de país.

Atrás dela ficou o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, que se posicionava como meio governo meio oposição. Fez isso para tentar tirar proveito por ter sido ministro da Economia de 2003 a 2005. Essa estratégia tirou poucos votos do Kircherismo, pois se a política econômica vai bem, porque mudar de candidato? Foi mais ou menos assim o raciocínio do eleitor.

Mesmo crescendo na reta final, o candidato da “ Frejuli (Frente Justiça, União e Liberdade)”, Alberto Rodríguez Saá, não ameaçou o governo. Ele representava a facção do Partido Justicialista (Peronista) de oposição a Nestor Kirchner. Era apoiado pela centro-direita do partido, liderada pelo ex-presidente Carlos Menem. Conseguiu tirar votos daquele eleitor que é peronista, mas estava descontente com o governo.

Por sua vez, o candidato Ricardo López Murphy deu mostras que ainda carrega o desgaste de ter sido ministro da Economia do ex-presidente Fernando de La Rua. Na sua gestão, adotou políticas econômicas ortodoxas de controle do gasto público que geraram insatisfações. Pelo seu passado pregresso, acabou visto pela classe média como um político com posturas muito a direita, ficando inviabilizado politicamente. Mas, por ser um critico do gasto público da atual administração, poderá lucrar caso Cristina fracasse no manejo da economia.

(Equipe Arko América Latina - americalatina@arkoadvice.com.br)

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